Medo e paciência

William Campos da Cruz
3 min readMar 31, 2020

--

Rousas J. Rushdoony

3 de janeiro de 1956

Tradução de William Campos da Cruz

Bom dia, amigos. Medo e fuga normalmente estão associados como causa e efeito — e com razão. Quando as pessoas sentem medo, o impulso mais comum é fugir. O medo, no entanto, muitas vezes se disfarça de coragem, e a fuga tenta revestir-se da aparência de um ataque. Pode-se ver uma ilustração muito comovente disso no campo de batalha. Às vezes, o soldado que está com medo e quer correr, corre, mas corre como todo ímpeto em direção ao inimigo. Renuncia a toda cautela normal e natural em nome de um ataque suicida que em raríssimas ocasiões é bem-sucedido, mas que normalmente dá fim ao temor e ao próprio soldado. O impulso é negar o medo e pôr fim na situação que produz o medo. Assim, termina com tudo ao fugir de si mesmo em direção ao inimigo. Isso não é coragem, mas medo. A verdadeira coragem mantém sua posição e somente se move para a frente ou para trás com sabedoria e cautela; o medo é sempre impaciente e incapaz de esperar.

O homem destemido é um homem paciente. Não sente que a vida o está roubando e que deve, com precipitação e impaciência, tomar o seu quinhão de prazeres e lucros enquanto pode. O homem impaciente é impaciente porque tem medo, porque sente que cada momento em que suas esperanças são frustradas, que sua expectativa tarda, constitui um duplo roubo contra ele, um roubo de tempo e de substância. O medo de perder a vida torna-o impaciente para Deus e para o homem, e pronto para impetuosamente bater em retirada ou partir em direção a um ataque insensato. Todavia, quer ataquemos, quer recuemos, fugimos de nós mesmos quando somos impacientes. Além disso, também fugimos da providência de Deus e tentamos instituir nossa própria providência especial feita por nossas mãos como um recurso mais seguro.

Paciência é um ato de fé e resulta da coragem, um indicador de confiança e destemor. A paciência declara ao Senhor: “Porque és o meu Deus, confiarei e não temerei” [possível alusão a Is 12.2]. Paulo declarou (Rm 5.1–5) que o crente está sujeito a provas e tribulações, que produzem paciência, “e a paciência a experiência; e a experiência a esperança: e a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Em outras palavras, antes que possamos ter alguma esperança verdadeira, alguma esperança divina, Deus deve produzir em nós a paciência, e a paciência só vem por meio da provação, dos problemas e diante do estresse e da pressão.

É simples assim: temer é ser impaciente. Ser destemido é ser paciente. A palavra do Senhor ao profeta Joel foi a seguinte: “Não temais… regozijai-vos e alegrai-vos no Senhor… E restituir-vos-ei os anos que comeu o gafanhoto” (Joel 2.21, 23 e 25).

O hino de Bradford Torrey nos dá uma excelente orientação aqui:

Não te precipites, coração meu!

Tem fé em Deus e espera;

Embora Ele tarde,

Nunca se atrasa.

Nunca se atrasa.

Ele sabe o que é melhor;

Não te aflijas em vão;

Até que ele venha, descansa.

Até que ele venha, descansa;

Não fique contando as horas que passam;

Os pés que esperam por Deus

Chegam primeiro ao alvo.

Chegam primeiro ao alvo,

E não pela velocidade;

Então, acalma-te, coração meu,

Pois esperarei a condução dele.

(Bradford Torrey, Not So in Haste, My Heart, 1875.)

--

--