Dia da língua romena — Ziua Limbii Române
O poeta e jornalista romeno Stefan Baciu, que esteve exilado no Brasil, conta num depoimento comovente como foi recebido pelo poeta brasileiro Manuel Bandeira. O depoimento pode ser lido na íntegra aqui, mas cito um trecho a título de contextualização do vem que a seguir.
Depois de poucas semanas fiz a primeira visita à residência do poeta, e embora já tivesse batido em várias “portas célebres” na Suíça, na França e na Itália meu coração batia violentamente enquanto apertava o botão da campainha, no enorme edifício na Esplanada do Castelo. Passeei durante alguns minutos lá em baixo, na avenida Beira-Mar — pois tinha chegado antes da hora — e pensava somente no “instante”. Encontrei-me, então, em frente do poeta. Atrás dele havia livros, livros, somente livros. Era um consolo, era como se eu estivesse lá em casa, e sentia ternura no coração. Entramos, entretanto, num quarto onde também havia somente livros, e Manuel Bandeira perguntou: “Então, o sr. é rumeno?”
Afirmei e contei em português, em poucas palavras desajeitadas, a história da minha vida. Quando me calei, o poeta recostou-se na cadeira de balanço, olhou-me algo sorridente e falou:“Mult e dulce şi frumoasă
Limba ce vorbim,
Alta limbă armonioasa
Ca ea nu gãsim”.Foi como se eu tivesse caído da lua. Em língua rumena! Manuel Bandeira, o grande poeta do Brasil, recebe o jovem colega dos Bálcãs com versos em língua rumena! Os versos de George Sion, belos e talvez algo ingênuos, soam no Rio de Janeiro e são pronunciados clara e corretamente. O maior poeta do Brasil pronuncia as palavras que as crianças da Rumânia aprendem na escola primária, os versos que cada rumeno aprende com o “Padre Nosso”. As palavras de George Sion na boca de Manuel Bandeira não foram somente uma surpresa singular, mas também um bálsamo a correr sôbre chagas abertas. A estrofe do poeta clássico da Moldavia rumena soava familiarmente, o perfume das palavras parecia provir de uma maçã amadurecida sob o sol áspero dos Cárpatos. Fiquei mudo! E Manuel Bandeira, que aprendera a estrofe na Suíça, há 40 anos, quando conviveu com rumenos, em Clavadel, para dizê-la hoje a um rumeno, permaneceu igualmente calado.
Pois bem, estes versos recitados por Manual Bandeira ao jovem poeta exilado Stefan Baciu são agora apresentados, “em palavras desajeitadas”, numa tradução minha, em língua portuguesa: